martes, septiembre 06, 2005

 

Katrina, com K maiúsculo

Ela chegou silenciosa, em toda sua majestade, linda e branca, com uma calda esvoaçante e enfumaçada, tão comprida e revolta, como os cabelos sacodidos ao vento por uma sereia que vem do mar. E não de qualquer mar: do Oceano Atlântico, onde, no Golfo do México ganhou força para romper a barreira do "impossível" e "inimaginável" e adentrar no país mais rico e poderoso do mundo sem a menor cerimônia, como uma adolescente revoltada que entra correndo em casa ouvindo um hard-core e chutando ao chão todos os pertences da família...


Muitos nem deram importância a ela. Permaneceram em suas casas, em suas cidades, esperando que o pior anunciado não chegaria, não seria verdade, como tantas vezes não foi. Quantas vezes ela batera à porta, tendo sua chegada anunciada em alto e bom tom, e o quão devastadora seria, quando tudo não passou apenas de "fogo de palha", um filme repetido, um vale-a-pena-ver-de-novo... um ventinho "meia-boca" que todos já viram e já sabem no que vai dar...

Pois e não é que
ela se sentiu forte e pegou a muitos de surpresa... Chegara a ser anunciado por autoridades locais que a evacuação seria necessária para dar lugar a ela, mas muitos ficaram pra trás. Os que saíram da cidade, nem roupas levaram, deixaram seus pertences mais preciosos para trás: carros, jóias, livros, arquivos magnéticos, fotos, cães e gatos. Pensavam que estariam de volta no máximo até 3 dias após a chegada dela, não contavam com sua astúcia, com o não-cálculo de todos os seus movimentos pelos especialistas, com a fragilidade do esquema de segurança do país mais rico do mundo, estados, cidades, com a fraqueza dos diques de contenção, que faziam com que fosse possível habitar uma cidade costeira que fica quase que 70%, aproximadamente, abaixo do nível do mar, e entre um rio (um dos maiores do mundo, diga-se de passagem - Mississipi) e um lago (Ponmtchartraim)...



E não chega a ser irônico ( e trágico, obviamente) que justamente nos locais onde ela passou levando tudo que via pela frente, eram os estados em que o atual presidente do país havia sido majoriatriamente rejeitado nas últimas eleições, por mais de 80% do eleitorado local, e que tal eleitorado fosse, em sua grande maioria, pobre e negro?

É claro que Katrina, com K maiúsculo,
foi um acidente natural, de uma força da natureza estrondosa, que não se pode medir com certeza matemática. No entanto, que força natural é esta, sem precendentes históricos? Que natureza é esta? Não estamos sendo alertados por ela, para que sejamos menos poluidores, e mais conscientes da nossa responsabilidade para com o meio ambiente em que vivemos? E não é verdade que o país mais rico do mundo é também aquele que mais polui? Aquele que se recusou a assinar o Protocolo de Kyoto sobre maior controle sob a emissão de gazes poluentes pela indústria?

As coisas parecem ficar bem claras agora...

Pelo menos para algumas coisas, que chegam a ser ironicamente engraçadas, a passagem
dela serviu:

1) Hugo Cháves e Fidél Castro oferecerem ajuda ao país mais rico do mundo;

2) O país mais rico do mundo pedir ajuda à OTAN e à U.E;

3) And last, but not least (por último, mas não por isso, menos importante, se é que não foi o MAIS IMPORTANTE DE TUDO), é que tudo isso serviu para aguçarmos o senso de fraternidade e solidariedade humanos, porque o ser humano pode ser ruim, mas também PODE SER BOM, pode ajudar, pode dar a mão, pode, com uma simples palavra, um gesto, ajudar, e muito, a quem hoje não tem mais NADA.

Convido todos os leitores, amigos, fãs, blogueiros e internautas de plantão a se informarem sobre ela, pois mesmo quem acha o contrário, pode ajudar em algo.

O blog do Idelber virou um ponto de encontro p/ a comunidade de New Orleans e Tulane University. Ele disponibilizou e-mails a todos, está em contato direto com amigos nos EUA para realocar estudantes de Tulane em outras universidades e nos informa sobre tudo que se passa por lá. Há também indicações de sites, blogs, telefones e e-mails que pode-se contactar em caso de emergência, e que dão notícias da situação.

O Alex Castro, do LLL estava em New Orleans, chegara por lá 2 semanas antes da passagem dela. Agora ele é um "exilado", e está lutando para ter notícias de Oliver, seu cão, que ficou em seu apartamento pelos motivos já elencados acima. Se alguém puder fazer qualquer coisa, o link para o pedido de ajuda dele é este aqui, e é sério.

Muitos beijos a todos,

Ana Letícia.
Mineiras, Uai!


Texto publicado no blog Mineiras, Uai!, em 05/09/2005.

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